terça-feira, 24 de julho de 2012

SONHEI QUE ME GOVERNAVA(M) MELHOR


Encontrei finalmente algo que gostaria de fazer para ganhar dinheiro e embora seja feio passei a invejar cronistas e escritores, pois é na realidade uma vida invejável.
Poder estar conforme me encontro presentemente, em contacto com a natureza, com tempo bom, numa casa no Alentejo e disfrutar de toda a qualidade de vida sem stresses nem correrias citadinas, aproveitando o sol, o descanso e paz que aqui reina, para ao fim do dia escrever e ser pago por isso é de facto uma vida de qualidade.
No bom costume português posso atenuar esta invejável situação e dizer que dois em um já não é mau, por isso embora não seja pago sempre posso escrever, blogar e sentir um pouco a sensação de escritores e cronistas, num verdadeiro ambiente de trabalho de sonho. Pena é que seja apenas uma ilusão, mas a vida de homem faz-se de sonhos, por isso, deixem-me sonhar….  

Assim, começo o meu sonho por me inscrever na universidade Lusófona e pedir equivalência em Línguas e Jornalismo, bem como talvez em ciências políticas para exercer o cargo de analista político. A experiência de trabalho em transportes marítimos e logística ainda me poderia valer uma vaga num ministério qualquer ou numa comissão de estudos. 

Para tal, bastaria obter um cartão partidário do PSD, PS ou CDS e arranjar amigos influentes e tornar-me Maçon. Bem sei que tais amigos vão-me pedir para fazer coisas que moralmente agora reprovo, mas para ter uma licenciatura (ou várias) e poder exercer tráfico de influências que se lixe a moralidade e venha a nós o reino do poder e dos euros!! 

Obtenho as licenciaturas e o meu jotazinho ganhou as eleições, como fui o seu braço direito na angariação de apoios , ele dá-me um cargo dentro do governo. O país está falido, ninguém nos empresta dinheiro para continuarmos com as obras a bem do país - mas que davam imenso jeito nas comissões recebidas que compunham o ordenado dos governantes -  é preciso apertar o cinto pois o dinheiro que temos não chega.  
A culpa, claro está, é do último executivo. Nós sabíamos que o país estava mal, mas não sabíamos que o buraco era tão fundo, um abismo. 

Assim, a primeira coisa a fazer é pedir ao pastor para explicar aos carneiros que a medida lhe dilacera o coração, mas por causa dos irresponsáveis que nos governaram não temos outra alternativa que fazer tábua rasa das promessas eleitorais e aumentar os impostos para que os nossos filhos possam ter um país com futuro (fica sempre bem falar nos filhos, pois o rebanho, aceita tudo se for para bem dos filhos). 

Mas a malta deste governo parece ser quase toda ela saída da universidade Lusófona, e por isso às contas que estavam feitas, não equacionaram umas quantas variantes e agora é preciso arranjar pelo menos mais uns dois mil milhões de euros para cumprir o programa da troika.

Um membro do governo que ninguém sabe porque é que se encontra ali, um erro de casting notoriamente, faz umas contas e debita:

- Se em vez da Assembleia da República ter 230 deputados se tiver o mínimo previsto na Constituição Portuguesa podermos poupar dois milhões e quinhentos mil de euros anualmente (com base em 12 ordenados).

- Mais - continuava esta gajo armado em bom - nas forças armadas poderíamos recuar e reimplantar o Serviço Militar Obrigatório e assim poupar cerca de 5 milhões de euros (isto tendo por base que a nossa força militar é de 50 mil pessoas e que apenas 10 mil sejam recrutas.  

- Para um país com a nossa dimensão a máquina estatal e da função pública está claramente sobrelotada, pelo que poderíamos …

O jotazinho visivelmente agastado, ergueu a mão no ar e o artista calou-se!!

Na reunião de executivos todos ficaram boquiabertos a olhar tal personagem e a interrogar-se de que planeta tinha vindo aquele espécimen.

O jotazinho faz-me um sinal com a cabeça e eu dirijo-me cautelosamente a este infiltrado do proletariado.  
Sento-me ao seu lado e sussurro-lhe “Tu és um tipo inteligente, com certeza com família para cuidar, tens um grande futuro à tua frente, por isso deixa lá essas ideias de merda e arranja alternativas válidas”!! 

Acordo do meu sonho aflito, pois estava a tornar-se um pesadelo, e compreendo que afinal isto é fruto da minha imaginação fértil. Como podia tal coisa acontecer num Estado de direito e democrático?

1 comentário:

  1. brilhante reflexão... ofuscante percepção... e... tentadora perspectiva!!! ;)
    como já nos habituaste, a tua narrativa desenha passos ao ritmo da dança a que nos obrigam com a música que emitem!!!

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