Encontrei finalmente algo que gostaria de fazer para ganhar
dinheiro e embora seja feio passei a invejar cronistas e escritores, pois é na
realidade uma vida invejável.
Poder estar conforme me encontro presentemente, em contacto
com a natureza, com tempo bom, numa casa no Alentejo e disfrutar de toda a
qualidade de vida sem stresses nem correrias citadinas, aproveitando o sol, o
descanso e paz que aqui reina, para ao fim do dia escrever e ser pago por isso
é de facto uma vida de qualidade.
No bom costume português posso atenuar esta invejável
situação e dizer que dois em um já não é mau, por isso embora não seja pago
sempre posso escrever, blogar e sentir um pouco a sensação de escritores e
cronistas, num verdadeiro ambiente de trabalho de sonho. Pena é que seja apenas
uma ilusão, mas a vida de homem faz-se de sonhos, por isso, deixem-me sonhar….
Assim, começo o meu sonho por me inscrever na universidade
Lusófona e pedir equivalência em Línguas e Jornalismo, bem como talvez em ciências
políticas para exercer o cargo de analista político. A experiência de trabalho
em transportes marítimos e logística ainda me poderia valer uma vaga num
ministério qualquer ou numa comissão de estudos.
Para tal, bastaria obter um cartão partidário do PSD, PS ou
CDS e arranjar amigos influentes e tornar-me Maçon. Bem sei que tais amigos
vão-me pedir para fazer coisas que moralmente agora reprovo, mas para ter uma
licenciatura (ou várias) e poder exercer tráfico de influências que se lixe a
moralidade e venha a nós o reino do poder e dos euros!!
Obtenho as licenciaturas e o meu jotazinho ganhou as
eleições, como fui o seu braço direito na angariação de apoios , ele dá-me um
cargo dentro do governo. O país está falido, ninguém nos empresta dinheiro para
continuarmos com as obras a bem do país - mas que davam imenso jeito nas
comissões recebidas que compunham o ordenado dos governantes - é preciso apertar o cinto pois o dinheiro que
temos não chega.
A culpa, claro está, é
do último executivo. Nós sabíamos que o país estava mal, mas não sabíamos que o
buraco era tão fundo, um abismo.
Assim, a primeira coisa a fazer é pedir ao
pastor para explicar aos carneiros que a medida lhe dilacera o coração, mas por
causa dos irresponsáveis que nos governaram não temos outra alternativa que fazer
tábua rasa das promessas eleitorais e aumentar os impostos para que os nossos
filhos possam ter um país com futuro (fica sempre bem falar nos filhos, pois o
rebanho, aceita tudo se for para bem dos filhos).
Mas a malta deste governo parece ser quase toda ela saída da
universidade Lusófona, e por isso às contas que estavam feitas, não
equacionaram umas quantas variantes e agora é preciso arranjar pelo menos mais
uns dois mil milhões de euros para cumprir o programa da troika.
Um membro do governo que ninguém sabe porque é que se
encontra ali, um erro de casting notoriamente, faz umas contas e debita:
- Se em vez da Assembleia da República ter 230 deputados se
tiver o mínimo previsto na Constituição Portuguesa podermos poupar dois milhões
e quinhentos mil de euros anualmente (com base em 12 ordenados).
- Mais - continuava esta gajo armado em bom - nas forças
armadas poderíamos recuar e reimplantar o Serviço Militar Obrigatório e assim
poupar cerca de 5 milhões de euros (isto tendo por base que a nossa força
militar é de 50 mil pessoas e que apenas 10 mil sejam recrutas.
- Para um país com a nossa dimensão a máquina estatal e da
função pública está claramente sobrelotada, pelo que poderíamos …
O jotazinho visivelmente agastado, ergueu a mão no ar e o
artista calou-se!!
Na reunião de executivos todos ficaram boquiabertos a olhar
tal personagem e a interrogar-se de que planeta tinha vindo aquele espécimen.
O jotazinho faz-me um sinal com a cabeça e eu dirijo-me
cautelosamente a este infiltrado do proletariado.
Sento-me ao seu lado e sussurro-lhe “Tu és um
tipo inteligente, com certeza com família para cuidar, tens um grande futuro à
tua frente, por isso deixa lá essas ideias de merda e arranja alternativas
válidas”!!
Acordo do meu sonho aflito, pois estava a tornar-se um
pesadelo, e compreendo que afinal isto é fruto da minha imaginação fértil. Como
podia tal coisa acontecer num Estado de direito e democrático?
brilhante reflexão... ofuscante percepção... e... tentadora perspectiva!!! ;)
ResponderEliminarcomo já nos habituaste, a tua narrativa desenha passos ao ritmo da dança a que nos obrigam com a música que emitem!!!