sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

NO TOPO DA MONTANHA


Não há muitos anos, confessava que me sentia no topo de uma montanha. Na qual segurava os meus pais na parte descendente e na outra o(s) meu(s) filho(s) na parte ascendente. Como se os meus braços fossem cordas em que um dos braços impedisse uns de cair, e o outro os ajudasse a subir. Confessava, também, que com esta analogia quereria expressar que não queria que uns envelhecessem e que os outros crescessem. Sentia-me em perfeito equilíbrio comigo, com a vida, com o universo.
No entanto a lei da vida, impede-nos de controlar o factor tempo e com ele todos nós envelhecemos, acabando por perder pessoas que nos são queridas e mais que isso, pessoas que nos são essenciais.

A vida, que nunca ninguém disse ser justa, mas que simplesmente merecia ser vivida, extingue-se da mesma forma como é gerada, de um momento para outro!
Deixando em quem por cá continua as boas memórias, o amor transmitido, o agradecimento por tudo o que fez por nós, o privilégio de ter privado com ela, a saudade envolta em nostalgia que nos causa tristeza, mágoa e dor. Uma dor imensa, uma dor diferente de qualquer outra dor, uma dor intrinsecamente sentida, uma dor que arrancou um pedaço de mim!

Sempre disse, e continuo a afirmar que choramos por egoísmo, choramos por nós, não por quem parte. No entanto, egoísmo maior é querer que a pessoa continue entre nós sofrendo quando já deu tudo o que nos tinha para dar.

O equilíbrio, de que falava quando me encontrava no topo da montanha, desfez-se no passado dia 27 de Dezembro 2012, estou convicto que foi a minha mãe que largou a minha mão, que não fui eu que não a consegui segurar e isso conforta-me bastante. Lutou, até à exaustão, para estar presente connosco em datas importantes como o meu casamento e o Natal. Natal, essa data que ela gostava imenso por lhe permitir ter a família toda presente, marido, filhos e netos todos juntos à mesa, em que todos sem excepção lhe cobiçavam o seu arroz doce, o melhor do mundo e arredores!
Sentados à mesa todos na brincadeira e em amena cavaqueira, ouvindo e contando histórias e "implicâncias", algumas hilariantes, de infância, do 'nel e da 'nina - forma carinhosa como os meus pais se tratavam - fruto de uma vida conjugal de 53 anos.
Lutou para além do que todos expectavam, para espanto dos médicos e nosso gáudio fintou a ceifeira por mais de uma vez com uma força sobre-humana, com uma força própria de mãe, esposa e avó, com a força de quem quer e como uma força da natureza que escolhe o seu próprio destino e a hora em que há-de partir.

Com os meus irmãos, recapitulamos episódios, alegrias, tristezas e invariavelmente vem a dúvida, olhamo-nos nos olhos e surge a questão.
- Que poderíamos ter feito pela mãe?

Todos achámos que tínhamos feito tudo o que podíamos, que lhe tínhamos proporcionado todos os desejos que nos partilhou e isso deixa-nos em paz!
No meio de tanta dor, a conclusão chegada é como um baptismo que nos lava a alma e nos purifica os corações.

Um tio nosso disse “Quem vive em paz, não tem necessidade de gritar” e esta frase faz todo o sentido, nesta frase talvez esteja a base da serenidade e tranquilidade que agora sentimos!

Diz-se que no topo da montanha se pode tocar nos céus, assim sendo, irei lentamente voltar ao equilíbrio no topo desta montanha. Agora não quero sair, tenho mais motivos para ficar, pois ainda seguro o meu pai e permaneço mais perto da minha mãe!

Uma nova estrela brilha agora nos céus para nos alumiar o caminho e para nos lembrar que uma pessoa é muito mais que aquilo que transparece ser, uma pessoa é o somatório do que era, do que deu e do que fez. E ... era minha mãe, deu-me dois irmãos, e fez o meu pai feliz!!

Adeus Mãe!

6 comentários:

  1. Este teu post é uma homenagem, um poema em prosa a uma mulher que será para sempre uma fonte de inspiração por tudo o que fez e deu.

    No meu coração há um sentimento agridoce, dividido entre a tristeza de não a poder abraçar mais, fisicamente, de não poder ouvir as suas palavras ou receber os seus beijos múltiplos de carinho, e a doçura de ter tido o privilégio de a ter conhecido, de ter feito parte da sua vida e até de ter protagonizado um dos seus momentos felizes, ao casar com o seu caçula! (esta oportunidade tenho de agradecer a todos os que para ela contribuíram...)

    Foi pouco tempo o que usufruí da sua companhia, dos seus afectos, mas foram momentos ricos que jamais esquecerei.

    Obrigada <3

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    1. Essa foi a intenção! fazer-lhe uma homenagem! No teu coração, eu sei, que ela também foi muito importante para ti! Acolheu-te como uma filha, da forma como só ela sabe fazer. O que me disseste eu sei q é sincero, que estavas agradecida, embora por tão pouco tempo, de ter privado com ela e que terás saudades dos beijinhos dela! e sempre que pestanejarmos uma para o outro irei recordar-me dela!
      Obrigado por todo o teu apoio e carinho! Foste fenomenal e és fundamental!

      Beijo terno e apaixonado! <3

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  2. Forte abraço amigo nesta hora de tristeza , os meus mais sinceros pesames , e como diz o poema que tao bem conhecemos "E aqueles que que por obras valorosas se vao da lei da morte libertando ", aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós .

    Jose Grilo

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  3. "Cantando espalharei por toda parte, se a tanto me ajudar o engenho e arte"

    Obrigado Grilo! Um abraço

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