segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

ESPERANDO A NOITE DE LUA CHEIA


A Casa com quase um milénio de magnificência histórica, tinha nos últimos 2 séculos vindo a depauperar-se fruto da ingenuidade, incompetência e ambição dos que tomavam conta dela como se fosse deles.
A Casa, agora carecia de obras, muitas obras de restauração, outras partes da Casa na herdade precisavam de ser demolidas para se poder reconstruir e nestes últimos 4 decénios os donos já tinham entregue dinheiro suficiente para construir uma nova Casa, uma nova Herdade e ainda assim, ela continuava a necessitar de obras de restauro. Os governantes nestes últimos 40 anos tinham recolhido o dinheiro e ficando com o seu dízimo, entregando as empreitadas de obras a amigos que não as efectuaram, e adjudicando a outros amigos que por sua vez sub-adjudicaram, cada um deles retendo a sua parte e sub-contratanto até o empreiteiro final, que quando ia trabalhar a obra não tinha dinheiro suficiente para a realizar.

O caseiro, a governanta, o mordomo e o jardineiro, entre outros, realizavam grandes festas com o dinheiro dos donos que trabalhavam fora e enviavam todos os meses dinheiro para que a herdade permanecesse limpa, asseada e digna e ainda para que a recuperassem. E quando este dinheiro não chegava, vendiam jóias e obras de arte de imenso valor para poderem fazer jus às despesas  

De 4 em 4 anos os donos da Casa renovavam o contrato do caseiro, da governanta, jardineiro e do mordomo, ou não renovavam e contratavam outros. Eles sabiam do que se passava em casa, mas não viviam lá. Achavam que quem vivia lá é que se devia preocupar, por isso foram deixando andar.

No dia em que se soube que os donos estavam a pensar no regresso à Herdade, o caseiro, que não queria ser apanhado pelos roubos que fez, despediu-se!

Aproveitando a oportunidade e com passos de coelho, um novo pretendente iludindo os donos com promessas de cuidar melhor do jardim, da casa, do recheio e das jóias de família, bem como em manter o aspecto da herdade em condições superiores às que estavam a ser cuidadas, garante o lugar de caseiro.
Para que pudesse pôr e dispor a seu bel-prazer de toda a herdade, seguiu as indicações sábias do jardineiro que tratava do jardim e aparava a relva, ao qual os donos da herdade nunca deram importância, mas que lhe motivou um ódio profundo e uma sede de poder.  

O "Relvas" conforme era carinhosamente alcunhado pelo caseiro, apressou-o a convidar uma governanta para formar uma aliança, de forma a fechar as portas para que não tivesse que dar cavaco ao mordomo que também já não queria saber de nada a não ser que o seu ordenado fosse depositado todos os meses.   

O caseiro não sabe como é que ganhou o lugar, mas não deixa de se vangloriar de tal feito. Pessoa iletrada e completamente estúpida não se apercebe de que todas as suas acções estão a ser controladas pelo fantasminha gaspar que o assombrava desde os tempos de estudante e sabendo que detém um poder supremo sobre o caseiro depressa o começa a indrominar.   


Lá fora os vampiros pairavam e batiam à porta para entrar, com promessas de lhes dar mais e melhores condições e de satisfazer qualquer desejo que tivessem, promessas de um futuro melhor, de uma credibilidade que eles não tinham, com um lugar entre os maiores da Europa e do Mundo. Um lugar na Nova Ordem Mundial!! 

A Alta Roda vampiresca, conhecido como Troika, dava ordens aos seus mais pequenos emissários, também eles já transformados há muito, sendo outrora pertencentes àquela herdade (onde trataram da contabilidade e dos dinheiros que os donos enviavam) para irem junto da casa bater à porta como humildes servos para que o caseiro, a governanta e o mordomo os ajudasse a impedir a ira divina que se transformaria num Armagedão que destruiria a herdade, deixando-a estéril.

Aconselhado pelo jardineiro, que ambicionava o poder de se tornar vampiro e pelo fantasminha que já tinha frequentado a Alta Roda Vampiresca, o ignorante caseiro logo acedeu a aceitar a ajuda convidando os vampiros a entrarem. 
A governanta sorriu (pois a responsabilidade era do caseiro). O mordomo anui! no fim e ao cabo era refém da situação, pois ele já se tinha socorrido daqueles velhos amigos que lhe valeram uma boa vida e tinha sido dos primeiros a roubar os proprietários pelo que só queria que o deixassem em paz e que não lhe tirassem o que ele já tinha. Para não mencionar o facto de que tudo era bom desde que parassem de lhe bater à porta a interromper o seu descanso!

O jardineiro, esse não parava de contentamento, motivado pelo ódio tenta vender na feira da ladra tudo o que de valor havia dentro de casa, inclusive uma televisão!

Desta forma - com base em mentiras, logros e “faz de conta” - os vampiros, para nossa triste sina, foram formalmente convidados a entrar em nossa Casa. Casa essa onde nesta altura são reis e senhores, onde põem e dispõem, onde ditam as regras e onde todos naquela casa obedecem de forma servil e ultrajante para o ser humano, embora alguns sejam autênticas víboras e que lhes assente bem andarem a rastejar para não serem devorados!  
Por forma a evitar o iminente massacre de todas as pessoas da casa o gaspar sugeriu aos vampiros que em vez de matar e sugar o sangue das pessoas que tomavam conta da casa, e que os tinham convidado a entrar, poderiam sugar o sangue de 10 milhões de donos num manancial quase inesgotável. Para tal, bastaria poupá-los que ele iria assombrar os donos no seu regresso a casa com cenários apocalípticos para que eles se prontificassem em darem-se ao sacrifício para salvar a Herdade em nome da pátria, da família e da independência da Herdade.   


Como toda a boa história que inclui vampiros, também aqui e nesta realidade mundana e cada vez mais sufocante que se vive nos burgos deste rectângulo periférico da Europa, os vampiros aguardaram à porta sem entrar, sem o fatal convite de dentro da casa!
Uma vez convidados, cabe-nos a nós (donos da Herdade e da Casa) tomarmos a decisão de como iremos regressar à nossa casa. Se como cordeiros ou como lobisomens

Por mim vou esperar a noite de lua cheia!

4 comentários:

  1. Eis uma crónica política em forma de rábula, remetendo ao cenário mais popular dos últimos tempos, em que sedentos vampiros e outros que tais assombram casas, a nossa casa, o nosso país! e sugam os seus habitantes sem misericórdia.

    Eis um texto engenhosamente criativo a partir de factos, em que o escritor usa [de novo] as palavras como bandeiras içadas e visa a mobilização das consciências.

    A cada um de nós cabe a decisão de quem quer ser quando chegar o momento de agir... o tão ansiado momento de mudança!

    nota: Parabéns António, este é, arrisco a dizer, um dos teus melhores textos de crítica "política"!!! brilhante =)

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    1. Obrigado Paulinha!
      Adorei escrever esta rábula! Tentei efectivamente mover consciências, e tentar dar a perceber que não nos basta manifestar, teremos que agir em bloco da direita até à direita! (para não confundirem com o BE) hehehe!!

      Mas sim! temos a nossa casa infestada e não é com palavras doces que combatemos a praga é chamando os exterminadores!!

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  2. :-) boa!
    ainda que não concorde com tudo e que lhe falte de algum rigor histórico - por exemplo: o que se despediu é que chamou os vampiros - mas é uma boa (infelizmente para nós, má, muito má) "rábula".

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    1. :) eu sei que lhe falta algum rigor histórico, mas tornava a rábula muito maçuda se tentasse explicar tudo nela!

      Mas para que conste a versão original do texto antes de enveredar pela rábula era esta (com rigor histórico :D)

      "A troika, que eu até hoje nunca tinha acusado do estado (definhante) da nossa Nação, entrou em nossa casa como convidada. Entrou, convidada por um senhorio, fazendo-se de anfitrião, quando afinal não o era!
      E o convite, convém não esquecer, foi endereçado pelo caseiro e pela governanta que se digladiaram para ficarem com o cargo maior e fazer-se passar pelo dono da casa.
      Ficou o caseiro, que com passos de coelho, conseguiu que a governanta fosse corrida pelos donos da casa, com promessas de cuidar melhor do jardim e das jóias de família, bem como em manter o aspecto da casa e herdade em condições superiores às que estavam a ser cuidadas....."

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