A Casa
com quase um milénio de magnificência histórica, tinha nos últimos 2 séculos vindo a depauperar-se fruto da ingenuidade, incompetência e ambição dos que tomavam conta dela
como se fosse deles.
A Casa,
agora carecia de obras, muitas obras de restauração,
outras partes da Casa na herdade precisavam de ser demolidas para se poder
reconstruir e nestes últimos 4 decénios os donos já tinham entregue dinheiro
suficiente para construir uma nova Casa, uma nova Herdade e ainda assim, ela
continuava a necessitar de obras de restauro. Os governantes nestes últimos 40 anos tinham recolhido o
dinheiro e ficando com o seu dízimo, entregando as
empreitadas de obras a amigos que não as efectuaram, e adjudicando
a outros amigos que por sua vez sub-adjudicaram, cada um deles retendo a sua
parte e sub-contratanto até o empreiteiro final, que quando
ia trabalhar a obra não tinha dinheiro suficiente
para a realizar.
O
caseiro, a governanta, o mordomo e o jardineiro, entre outros, realizavam
grandes festas com o dinheiro dos donos que trabalhavam fora e enviavam todos
os meses dinheiro para que a herdade permanecesse limpa, asseada e digna e
ainda para que a recuperassem. E quando este dinheiro não chegava, vendiam jóias e obras de arte de imenso
valor para poderem fazer jus às despesas
De 4 em 4
anos os donos da Casa renovavam o contrato do caseiro, da governanta,
jardineiro e do mordomo, ou não renovavam e contratavam
outros. Eles sabiam do que se passava em casa, mas não viviam lá. Achavam que quem vivia lá é que se devia preocupar, por
isso foram deixando andar.
No dia em
que se soube que os donos estavam a pensar no regresso à Herdade, o caseiro, que não
queria ser apanhado pelos roubos que fez, despediu-se!
Aproveitando
a oportunidade e com passos de coelho,
um novo pretendente iludindo os donos com promessas de cuidar melhor do jardim,
da casa, do recheio e das jóias de família, bem como em manter o aspecto da herdade em condições superiores às que estavam a ser cuidadas, garante
o lugar de caseiro.
Para que
pudesse pôr e dispor a seu bel-prazer de
toda a herdade, seguiu as indicações sábias do jardineiro que tratava do jardim e aparava a relva,
ao qual os donos da herdade nunca deram importância,
mas que lhe motivou um ódio profundo e uma sede de
poder.
O "Relvas" conforme era
carinhosamente alcunhado pelo caseiro, apressou-o a convidar uma governanta para formar uma aliança, de forma
a fechar as portas para que não tivesse que dar cavaco
ao mordomo que também já não queria saber de nada a não ser que o seu ordenado fosse depositado todos os meses.
O caseiro
não sabe como é que ganhou o lugar, mas não
deixa de se vangloriar de tal feito. Pessoa iletrada e completamente estúpida não se apercebe de que todas as
suas acções estão a ser controladas pelo fantasminha gaspar que o assombrava desde os tempos de estudante e sabendo que
detém um poder supremo sobre o
caseiro depressa o começa a indrominar.
Lá fora os vampiros pairavam e batiam à porta para entrar, com promessas de lhes dar mais e
melhores condições e de satisfazer qualquer
desejo que tivessem, promessas de um futuro melhor, de uma credibilidade que
eles não tinham, com um lugar entre
os maiores da Europa e do Mundo. Um lugar na Nova Ordem Mundial!!
A Alta
Roda vampiresca, conhecido como Troika, dava ordens aos seus mais pequenos
emissários, também eles já transformados há muito, sendo outrora pertencentes àquela herdade (onde trataram da contabilidade e dos dinheiros
que os donos enviavam) para irem junto da casa bater à porta como humildes servos para que o caseiro, a governanta
e o mordomo os ajudasse a impedir a ira divina que se transformaria num Armagedão que destruiria a herdade, deixando-a estéril.
Aconselhado
pelo jardineiro, que ambicionava o poder de se tornar vampiro e pelo
fantasminha que já tinha frequentado a Alta Roda
Vampiresca, o ignorante caseiro logo acedeu a aceitar a ajuda convidando os vampiros a
entrarem.
A governanta sorriu (pois a responsabilidade era do caseiro). O
mordomo anui! no fim e ao cabo era refém da situação, pois ele já se tinha socorrido daqueles velhos amigos que lhe valeram uma boa vida e tinha sido dos primeiros a roubar os proprietários pelo que só queria que o deixassem em paz e que não lhe tirassem o que ele já tinha. Para não mencionar o facto de que tudo era bom desde que parassem de lhe bater à porta a interromper o seu descanso!
O
jardineiro, esse não parava de contentamento,
motivado pelo ódio tenta vender na feira da
ladra tudo o que de valor havia dentro de casa, inclusive uma televisão!
Desta
forma - com base em mentiras, logros e “faz de conta” - os vampiros, para nossa triste sina, foram formalmente
convidados a entrar em nossa Casa. Casa essa onde nesta altura são reis e senhores, onde põem
e dispõem, onde ditam as regras e
onde todos naquela casa obedecem de forma servil e ultrajante para o ser
humano, embora alguns sejam autênticas víboras e que lhes assente bem andarem a rastejar para não serem devorados!
Por forma
a evitar o iminente massacre de todas as pessoas da casa o gaspar sugeriu aos
vampiros que em vez de matar e sugar o sangue das pessoas que tomavam conta da
casa, e que os tinham convidado a entrar, poderiam sugar o sangue de 10 milhões de donos num manancial quase inesgotável. Para tal, bastaria poupá-los
que ele iria assombrar os donos no seu regresso a casa com cenários apocalípticos para que eles se
prontificassem em darem-se ao sacrifício para salvar a Herdade em
nome da pátria, da família e da independência da Herdade.
Como toda
a boa história que inclui vampiros, também aqui e nesta realidade mundana e cada vez mais sufocante
que se vive nos burgos deste rectângulo periférico da Europa, os vampiros aguardaram à porta sem entrar, sem o fatal convite de dentro da casa!
Uma vez
convidados, cabe-nos a nós (donos da Herdade e da Casa)
tomarmos a decisão de como iremos regressar à nossa casa. Se como cordeiros ou como lobisomens
Por mim vou esperar a noite de lua
cheia!
Eis uma crónica política em forma de rábula, remetendo ao cenário mais popular dos últimos tempos, em que sedentos vampiros e outros que tais assombram casas, a nossa casa, o nosso país! e sugam os seus habitantes sem misericórdia.
ResponderEliminarEis um texto engenhosamente criativo a partir de factos, em que o escritor usa [de novo] as palavras como bandeiras içadas e visa a mobilização das consciências.
A cada um de nós cabe a decisão de quem quer ser quando chegar o momento de agir... o tão ansiado momento de mudança!
nota: Parabéns António, este é, arrisco a dizer, um dos teus melhores textos de crítica "política"!!! brilhante =)
Obrigado Paulinha!
EliminarAdorei escrever esta rábula! Tentei efectivamente mover consciências, e tentar dar a perceber que não nos basta manifestar, teremos que agir em bloco da direita até à direita! (para não confundirem com o BE) hehehe!!
Mas sim! temos a nossa casa infestada e não é com palavras doces que combatemos a praga é chamando os exterminadores!!
:-) boa!
ResponderEliminarainda que não concorde com tudo e que lhe falte de algum rigor histórico - por exemplo: o que se despediu é que chamou os vampiros - mas é uma boa (infelizmente para nós, má, muito má) "rábula".
:) eu sei que lhe falta algum rigor histórico, mas tornava a rábula muito maçuda se tentasse explicar tudo nela!
EliminarMas para que conste a versão original do texto antes de enveredar pela rábula era esta (com rigor histórico :D)
"A troika, que eu até hoje nunca tinha acusado do estado (definhante) da nossa Nação, entrou em nossa casa como convidada. Entrou, convidada por um senhorio, fazendo-se de anfitrião, quando afinal não o era!
E o convite, convém não esquecer, foi endereçado pelo caseiro e pela governanta que se digladiaram para ficarem com o cargo maior e fazer-se passar pelo dono da casa.
Ficou o caseiro, que com passos de coelho, conseguiu que a governanta fosse corrida pelos donos da casa, com promessas de cuidar melhor do jardim e das jóias de família, bem como em manter o aspecto da casa e herdade em condições superiores às que estavam a ser cuidadas....."